Ligados à máquina

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Miguel Albuquerque foi modesto ao admitir no Parlamento que com “a queda deste Governo e a convocação de novas eleições regionais, a Região ficará ligada à máquina”. Nada de novo. Sem Governo e sem Orçamento durante o primeiro semestre de 2025, a Madeira acabará por experimentar os riscos decorrentes das aventuras eleitorais recentes, do descuido no trato daquilo que é elementar em democracia e da abstenção tácita. A Região sempre esteve, de forma mais ou menos evidente, ligada à máquina por que excessivamente dependente de bolhas pontuais e de fenómenos que não controla, como os fluxos turísticos, mas também de atitudes estranhamente subservientes, dessa mão estendida aos fundos derramados pela Europa, às migalhas que sobram do Orçamentos da pátria e às benesses das aritméticas domésticas. Esta relação de dependência é ancestral e os culpados são os agora especialistas em palpite, mas que outrora preferiram alimentar contenciosos por serem avessos ao diálogo, os que quiseram orgulhosamente ser ilha num contexto em que era recomendável o aprofundamento da Autonomia e a diversificação da economia, os que se especializaram em engenharias financeiras comprometendo o rigor e a transparência e os que esconderam dívida em nome do alegado desenvolvimento. Muitos madeirenses vivem há décadas ligados à máquina, sem margem para outra forma de vida, já que se habituaram à subsidiodependência armadilhada, à cunha conveniente e à mordomia farta. Alguns de tal forma que, sem mundo, nem rasgo universalista, são incapazes de ver para além do óbvio, de admitir que a razão é diversa e que o bem maior exige altruísmo. Mas onde andam os outros?

Estão ligados à máquina os que se viciam no poder e julgam que são eternos. Mas também todos os que parasitam o sistema e envenenam relações, os que tudo fizeram para criminalizar amizades e destruir sonhos, os que semearam o ódio e a inveja na esperança de um dia ganhar uma mão cheia de nada.

Num aspecto, Miguel Albuquerque tem razão: os madeirenses estão fartos de confusões e rebaldarias e querem viver em paz e com rumo. Façam-nos então esse favor e mexam-se os que na política gerem silêncios, como Marcelo Rebelo de Sousa, os que dele esperam tempo de sobra para que possam ter uma quarta oportunidade de vitória no PSD-M, como Manuel António Correia, os que como ele aguardam no sofá uma eternidade por um chamamento compulsivo que seja portador de estabilidade e de esperança e ainda os que na oposição esperam um dia conseguir o que em quase 50 anos de democracia não foram capazes, ora por mérito alheio, mas quase sempre por manifesta inabilidade, que aliás, teimam em reeditar sempre que precisam de votos. O que é novo nesta tradicional ligação à máquina é que há cada vez menos entendidos no manuseamento da sua complexidade, menos gente treinada para gerir o erário e quase ninguém competente para zelar pelo elementar. Assim, a acalmia de outrora dá lugar ao caos, como era aliás desejo daqueles que nunca suportaram a ideia de sair de cena sem glória, mesmo que agora pulem de hora em hora nos circos mediáticos nacionais. E se a máquina parar, de vez?

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