Cansado

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Estou cansado: cansado da triste e infeliz vida política madeirense.

Estou cansado dos que, sem qualquer informação que o demonstre, insistem em dizer que estamos todos cansados de eleições, como se na Madeira fosse possível estarmos mais cansados com alguma coisa do que com este desgoverno. Como se em algum cenário fosse melhor não as termos de novo e depressa.

Cansado de um regime com 50 anos, que parece não ter forma de chegar ao fim, por maior que seja o ridículo a que chegue. Um regime que voltou a ser motivo de chacota na imprensa nacional, porque já ninguém nos leva a sério: nem à Madeira, nem às escolhas dos madeirenses. Mas se alguém ainda tivesse dúvidas, então bastaria olhar para a forma como um Governo da AD, que supostamente tudo nos traria, pura e simplesmente abandonou os seus: Miguel Albuquerque, o PSD e a Madeira.

Estou cansado de um Governo Regional que continua a governar como se nada tivesse acontecido. Como se não tivessem sido inacreditavelmente negligentes e incompetentes na gestão dos incêndios de Agosto. Como se isso não tivesse custado muito a tanta gente e à Madeira. Como se metade do Governo não estivesse acusado de corrupção. Como se tudo fosse um assunto de menor importância, tudo invenção de alguns, tudo espuma dos dias que depressa desaparecerá.

Cansado de um PSD Madeira que baralha sempre para dar de novo. Um PSD onde os que sempre, sempre, sempre foram coniventes com o regime, beneficiários diretos do seu funcionamento geração após geração, anteriores agressores de opositores, aparecem agora como supostas vítimas, prontas para serem ungidas pelo divino seguinte. Cansado de um Miguel Albuquerque sem rumo, mas cansado também dos Manuel António Correias que se querem seguir como se não fossem mais do mesmo. Exatamente mais do mesmo.

Cansado de um CDS travestido desde 2019, que todos os dias é extensão do governo, mas finge ser oposição. Cansado dos CHEGAs, dos PANs e de todos os que a única coisa para que servem, por mais que lhes custe entender, é perpetuarem o estado de coisas.

Cansado de uma Assembleia Regional que já ninguém sabe bem para que serve, que passa mais tempo fechada do que aberta e que num momento tão mau como este continua a mostrar-se incapaz de fazer o mínimo indispensável: censurar este Governo.

Cansado de uma oposição globalmente frágil, quase sempre inconsequente, em tantos concelhos inexistente e que raramente é capaz de se entender em torno do essencial: agora mudar a Madeira, como um dia foi mudar o Funchal. Cansado de assistir à aparente espera da oposição pelo PSD seguinte, em vez de agirem já – depressa e em força.

Cansado de lideranças incapazes de compreenderem o óbvio: que a discussão não é sobre elas, mas sobre a Madeira. Que acham que estão sempre certas, apesar dos resultados insistirem em mostrar que não.

Cansado de um jogo político de resultado fixo à partida – mesmo contra um antigamente todo poderoso que já não engana ninguém. Dos que vão a votos para perder por poucos, desde que chegue para contentar alguns. De quem insiste em fazer tudo igual, com os mesmos de sempre, com os resultados de sempre, mas alimenta a ideia de que são “os outros” que estão “a fazer o jogo do PSD”. De gente preocupada apenas com o seu lugar, mas que aponta para quem está de fora e não os quer para coisa nenhuma como “o problema”. De gente preocupada com nomes, egos e marcas históricas de que ninguém se lembrará daqui a 100 anos, em vez de se preocuparem em deixar a Madeira um bocadinho melhor do que a que recebemos. Lamento, mas se ainda não perceberam aqui fica: estamos todos a falhar.

Estou cansado, mas não derrotado e jamais vergado. Como eu, julgo estarem muitos madeirenses – e é isso que precisamos de compreender no PS também. Não é só o PS que precisa de primárias abertas; não é só a sociedade civil que precisa de voltar a rever-se no PS; é sobretudo a Madeira que precisa de uma solução – para hoje. A solução que os madeirenses escolherem e para a qual o PS deve forçosamente contribuir. Uma solução em que os madeirenses acreditem, em que se revejam, em torno da qual se mobilizem outra vez. Uma solução que represente uma esperança maior do que cada um de nós, do que o PS, do que lideranças sempre transitórias e circunstanciais. Uma solução à dimensão da Madeira que queremos: com ambição, com uma nova visão, com coragem, com determinação vencedora e com futuro.

Estou cansado de muita coisa – mas nunca, nunca, nunca da Democracia que as eleições representam e da Liberdade plena que um dia também significarão para a Madeira. Estou cansado de muita coisa – mas nunca de sonhar e lutar por uma Madeira melhor e para todos, que sei que chegará.

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