Quase 40% das camas do hospital ocupadas por ‘altas problemáticas’

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Pelo menos 251 das 639 camas de
enfermaria de adultos dos dois principais hospitais públicos da Região – o Hospital
Dr. Nélio Mendonça e o Hospital dos Marmeleiros – estão ocupadas com doentes
que não têm indicação para internamento numa unidade de saúde diferenciada.

Este tem sido um tema a que o DIÁRIO tem dado alguma atenção nas suas edições, tanto impressa, como digital.

Depois de no fim-de-semana termos feito uma ‘radiografia’ aos cuidados de saúde prestados aos madeirenses e lançado o repto às diferentes candidaturas em apresentar as soluções para a melhoria do estado da Saúde regional, fazemos, hoje, a actualização dos dados das chamadas ‘altas problemáticas’, um número que está em constante evolução, conforme destacou o director clínico do Serviço de Saúde da Região (SESARAM). 

Júlio Nóbrega, ao DIÁRIO, reconhece que as altas clínicas continuam a limitar a capacidade de resposta dos Serviços de Saúde, notando que cerca de 40% das camas de enfermaria de adultos estão, neste momento, ocupadas por utentes que não têm indicação clínica para internamento, situação que limita a
capacidade de resposta dos serviços, complicando, por vezes, a situação no
Serviço de Urgência, onde, permanecem internados a aguardar cama em enfermaria
entre 15 a 20 doentes.

Ainda assim, o médico não deixa
de notar que a todos eles têm sido prestados os cuidados necessários face à sua
condição de saúde. Nesse sentido, salienta o reforço das equipas de enfermagem
e assistentes operacionais.

Além disso, houve o cuidado de
adaptar alguns espaços do Serviço de Urgência, nomeadamente os corredores,
dotando-se, por exemplo, de rampas de oxigénio, adequando a resposta às
necessidades, quando a procura aumenta significativamente.

Júlio Nóbrega refere, também, que,
nos dois primeiros meses deste ano, a procura pelo Serviço de Urgência tem sido
menor, com menos 900 atendimentos do que em igual período do ano passado, ou
seja, cerca de menos 5% de doentes atendidos, de um total de cerca de 18.000 atendimentos realizados entre Janeiro e Fevereiro. Ainda assim, e numa
análise linear dos números, tem havido uma necessidade crescente de internamento, aumentando 6% em relação ao período homólogo.

“São doentes com mais idade, que
têm muitas comorbilidades e várias doenças crónicas associadas, obrigando a que
fiquem internados para um tratamento mais adequado”, nota o médico, para quem
esta não é a situação ideal.

O director clínico salienta o
esforço por parte dos diferentes serviços em minimizar o impacto desta ‘ocupação
indevida’ de camas, notando que a resolução deste problema passará, em parte,
pela optimização das respostas sociais existentes e disponibilizadas à população.

Estamos a falar de pessoas que não têm indicação clínica para estarem internadas e que, certamente, teriam cuidados mais adequados em unidades de âmbito social, como lares. Precisamos de muita ajuda da Segurança Social na resolução deste prolema. Nestas ‘altas problemáticas’ temos muitas pessoas que tiveram uma doença aguda que as deixou com algumas sequelas, nomeadamente mobilidade reduzida, alterações cognitivas, e por força disso têm muito dificuldade em voltar para casa, as famílias não as conseguem receber, porque precisam de um cuidador ou de outro tipo de apoio para tal. 

Júlio Nóbrega, director clínico do SESARAM

Dos 321 utentes que estão, neste
momento, a ocupar uma cama do Serviço Regional de Saúde sem que tenham indicação
clínica para tal, 251 estão repartidos entre o Hospital Dr. Nélio Mendonça e o
Hospital dos Marmeleiros; os outros 70 utentes estão nas unidades de saúde de
São Vicente, de Santana e Hospital Dr. João de Almada, nomeadamente em serviços
de cuidados continuados. Nestas contas não entram, entre outras situações específicas, as camas afectas à Pediatria, aos Cuidados Intensivos, a algumas unidades de Cardiologia ou à Obstetrícia. 

Embora no final do ano passado tenha sido necessário proceder ao cancelamento de algumas cirurgias electivas, Júlio Nóbrega refere que os cancelamentos têm sido muito pontuais, no que toca à falta de cama para internamento no pós-operatório, realçando que as situações urgentes e prioritárias, onde se incluiem os doentes oncológicos, não têm ficado por realizar.

O director clínico diz mesmo que, além do número máximo de operações realizadas no ano passado, situação que já foi noticiada pelo DIÁRIO, revelando as pouco mais de 18 mil cirurgias feitas, nos dois primeiros meses deste ano já houve um aumento de 400 operações em relação a igual período do ano passado, com 3.507 intervenções cirúrgicas feitas. 

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