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Aumento da violência sobre os médicos deve-se à degradação das condições na saúde pública

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O “aumento grande” do flagelo da violência sobre os profissionais de saúde ou assédio em relação ao burnout e aos riscos psicossociais contra os médicos e demais profissionais de saúde deve-se à “diminuição das condições do Serviço Nacional de Saúde, os budgets para a saúde que existem, a perda da qualidade de funcionamento dos nossos serviços de saúde e do atendimento que nós podemos exercer a nível das condições próprias para isso, têm sido prejudicadas”. A conclusão é do médico José Santos, o presidente do Conselho Europeu das Ordens dos Médicos.

“Dar condições aos médicos e aos profissionais da saúde para poderem exercer a sua actuação com independência e com condições técnicas e de relação, de envolvimento com o serviço de saúde, melhores” é a receita do médico que está no Funchal por ocasião do Autumn Meeting 2024 do Conselho Europeu das Ordens dos Médicos, evento que decorre hoje e amanhã numa unidade hoteleira e se realiza pela primeira vez na Madeira.

Caso contrário, que é o que tem estado a acontecer na saúde pública em Portugal, “o alto risco nesta situação é para os profissionais, em primeiro lugar, mas também é para os doentes, porque a qualidade de atendimento aos doentes também é prejudicada se o médico não estiver em condições físicas e psicológicas para exercer a sua actividade”.

Considera que a resolução deste problema não passa só pela parte financeira, mas também por se criar boas lideranças, “porque uma liderança clínica boa permite que as coisas funcionem melhor”, defende.

Sobre o problema da falta de médicos no serviço público em Portugal, considera que é resultado de “não se criar condições no Serviço Nacional de Saúde para que os médicos possam trabalhar melhor”. Daí que “reter profissionais no Serviço Nacional de Saúde tem muito a ver também com as atitudes políticas e com as formas como elas são aplicadas”. Admite que “a retenção no Serviço Nacional de Saúde depende de todos nós. Não depende só dos médicos, não depende dos enfermeiros, não depende dos assistentes. Depende de uma política de saúde que defenda verdadeiramente o que é importante, é a relação médica-doente. Nós para tratarmos bem os doentes temos de ter condições para as tratar. E se nós tivermos condições no Serviço Nacional de Saúde, nós não precisamos tanto do privado”, sustenta.

José Santos chama ainda a atenção que as novas gerações de médicos “Bons profissionais que querem também ter, e isto é transversal a toda a Europa, querem ter tempo também para si, para a família, para a relação que a vida, o balance, o life balance, portanto, no fundo, a vida de equilíbrio que existe e que deve existir. As pessoas, se não tiverem possibilidade de ter condições num local só, ou vão deixar – há neste momento médicos a mudar de profissão e médicos a mudar de especialidades -, porque não é atractivo para eles neste momento, porque têm um pensamento diferente. A Europa mudou, o paradigma mudou, as pessoas querem ter tempo para si, para a família, para ver crescer os filhos e não querem deixar de ser bons médicos, não querem fazer urgências umas atrás das outras, não querem ser sobrecarregados com o trabalho que lhes tira a capacidade de poderem ser bons médicos e ao mesmo tempo diminuem a possibilidade da relação médico-doente ser um acto moral, ético e deontológico de alta qualidade”, concretiza.

Porque o alto risco nesta situação é para os profissionais, em primeiro lugar, mas também é para os doentes, porque a qualidade de atendimento aos doentes também é prejudicada se o médico não estiver em condições físicas e psicológicas para exercer a sua actividade.

Orlando Drumond

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